Entregas e febres nos olhos

Marina Martins
3 min readSep 17, 2021

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Eu pensei se entregava ou não, sempre penso tudo mil vezes. Será que vai achar que sou muito apegada, sentimental? Mas assim. Ache o que quiser. Isso não me pertence. Estou escancarando meu coração. Paaaamparam – toca Belchior ao fundo. Taurina com lua em capricórnio, tenho essa tendência insuportável de pensar mil vezes antes de fazer e falar as coisas, mas preciso aprender a deixar que meu ascendente em aquário ascenda e me puxe para o risco, me deixe mais desapegada e vivendo o que há para viver.

A música do Lulu é clichê e real, “não há tempo que volte, amor, vamos viver tudo o que há pra viver, vamos nos permitir”. Desde que comecei a parar de ter tantas certezas e me dar conta de que controlo muito pouco, tento colocar isso em prática. Hoje, isso se intensifica, em tempos que a vida parece que, a qualquer momento, pode escorrer pelas mãos, não temos segurança, somos cercados por medos e ansiedades. Astrologicamente, gosto da sensação de segurança e estabilidade e prezo pelas liberdades e voos, mas nada disso temos em uma pandemia. Já tinha aprendido me desapegar ao controle depois de anos de análise e vivendo em um outro país, mas de um jeito mais leve do que uma ameaça constante de morte e crise.

Em vez de ficar pensando em todos os prós e os contras, só quero transmitir o que sinto, porque estou sentindo agora, não tem como des-sentir. Talvez eu pare de sentir, o que é mais uma razão para abrir. Se eu parar de sentir e não entregar, não tem graça. Não adianta ficar toda hora pensando e repensando sobre tudo, eu só queria a liberdade de ter uma ideia e avaliar rapidamente se vale ou não a pena, sem mais. Apontar todos os prós e contras é querer controlar uma situação sobre a qual não tenho nenhum controle.

Não me arrependo de ter entregue textos e cartas. Como aprendi na análise, a gente escreve pra gente, antes de ser pra outra pessoa. Mesmo que se destine a alguém, o destinatário principal será sempre a gente. Escrevo pra mim e compartilho com quem desejo. Assim como sou minha e me compartilhar com quem desejo. Não costumo me arrepender. Até porque, tudo passa.

É isso. Tudo passa. Mas antes que passe, é preciso viver. Numa vibe meio Belchior, meio Dua Lipa e Angèle, vivo com febre nos olhos, ardência de vida, pressa de viver. E gosto bem mais quando a vida arde em meus olhos do que quando está frio.

Que você me aqueça neste inverno e que tudo mais vá pro inferno. Já, já é primavera, te amo.

Marina N. Martins

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Marina Martins

Roteirista, escritora, cineasta, fotógrafa, carioca, 27 anos. No Instagram: eumarinanina | corpocru | ninanmartins