À Nina de 18, 19, 20 anos.

Marina Martins
3 min readMar 7, 2023

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À que vi nos vídeos da faculdade. Aqueles que falavam de sonhos e futuros. Falavam sobre escolhas e carreira.

Como aquele que você fez sobre a profissão dos sonhos, na disciplina do saudoso mestre Luiz Favilla, e que você ficou toda temerosa, com vergonha, mas que todos adoraram, inclusive o professor.

Aquele que você nem lembrava, que fez com sua fiel escudeira Pat, entrevistando colegas de arte sobre o que pensavam do presente e do futuro nessa vida de teatro e cinema.

Aquele que você pegou um monte de cenas de filmes que te marcaram e contou sua trajetória no mundo mágico do cinema, que te fez escolher traçar o caminho do audiovisual.

Nina jovem, jovem Nina, você era tão corajosa. Tão sabida do que queria. Botou na cabeça um negócio, e outro, e mais outro, e foi indo atrás.

Menina Nina, você sempre soube que não seria fácil trabalhar com audiovisual no Brasil, mas, apesar de muito racional, seu coração sempre falou muito alto. Ele pulsa em batidas de bateria de escola de samba, em 150 bpm, apaixonado pelo seu país, sua cidade, sua cultura.

Nina menina, encontrou em Amélie uma identificação do seu lado mais ingênuo e sonhador e depois precisou entender o que nisso te ajudava e o que atrapalhava. Precisou também se desvencilhar daquela que te ajudou muito a escolher trilhar o caminho que você escolheu.

Um dia sua mãe te disse, quando um sonho imenso se realizou e você se tremeu inteira: “é, filha, cuidado com o que você sonha, pode se realizar”. Sua terapeuta falou que você não precisa ter medo dos seus sonhos. Mas você nunca temeu sonhar, o medo só vinha quando virava realidade.

Peque-nina, a realidade não tem trilha sonora de Yann Tiersen e você ainda precisa gritar por ajuda para pagar contas e aluguéis. Você sempre soube que não seria fácil. Você ainda se cobra muito e deveria se cobrar menos.

Nina-menina, Nina-mulher, moça com Mar no nome, tanto mar que os olhos sempre transbordaram.

A realidade é tão dura que é preciso resgatar os sonhos.

Marina, é preciso mergulhar de escafandro, desbravar o mar dos sonhos, tentar por um minuto esquecer do salário e das contas bancárias e entender, mais uma vez, por que raios você não nasceu para ser engenheira e sim para ser artista. Você sempre teve o privilégio de poder sonhar e sempre soube disso, “ajoelha e agradece”, seu pai dizia.

Nina, você só tinha 18, 19, 20 anos. Hoje, você já tem 27. Só. Que pouco. Que tanto. Você olha para você no passado e chora rios e mares, sua maré interna se enche de emoção. Você tem vontade de pegar você no colo (eu digitei calo), de fazer cafuné, dar um beijo e um abraço e dizer: calma.

Você ainda tenta fazer isso certas noites. Se pegar no colo, se fazer cafuné e se dizer: calma.

Calma.

Carrego você, Nina. Carrego todas as que vieram antes e as que estão por vir. Te carrego comigo enfrentando correntezas.

Quando tiver medo de se afogar, lembre-se de nadar. Não esqueça de respirar. Está tudo bem ir devagar em mar revolto e tentar buscar pelas marés mais tranquilas.

Marina N. Martins, a todas as Marinas que nadam comigo, tem medo das ondas, se jogam nas águas e buscam a superfície para eu não me afogar.

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Marina Martins

Roteirista, escritora, cineasta, fotógrafa, carioca, 27 anos. No Instagram: eumarinanina | corpocru | ninanmartins